segunda-feira, 28 de junho de 2010

Capitulo 1 - Não tem sentido

A vida simplesmente não tinha sentido. Estava eu, sentada numa cadeira com uma arma em cima da mesa. Essa mesa ficava na varanda da minha casa, num lugar tranquilo e limpo. Lembro-me das alegrias que tive ao ver Rafael regando as flores que plantamos na última primavera.
Um copo de chá em minhas mãos, o último de minha insignificante vida. Chá me fazia sorrir, mas não naquele dia. Na verdade, um estúpido copo de chá rotineiro não era o que realmente me fazia sorrir. O real motivo era vê-lo sentado na minha frente, rindo e me dando um sermão:
— Você toma muito chá. Sabia que chá deixa seus dentes amarelados? Sua britânica! Percebeu como você me faz tomar chá, diariamente, ás 5 horas da tarde? Somos pessoas de rotina agora?
Eu sabia exatamente o motivo do “sermão”, ambos sabíamos. Embora falasse isso, pegava uma xícara, colocava chá e ficava me olhando. Não me esqueço de seus olhos: eram castanhos, meio caídos e muito dóceis. Parecia que ele contava todos os seus segredos apenas pelo olhar. Ao perceber que eu estava olhando seus belíssimos olhos, ele tomava um gole de chá e dava um delicioso sorriso. Seus dentes eram meio amarelos, e alguns eram tortos, mas toda a vez que ele sorria, apareciam “ruguinhas” ao lado de seus olhos, que eram as coisas mais fofas que já vi.
Eu colocava as mãos no meu rosto, tentando esconder todas as imperfeições que tinha, mas ele sempre tirava delicadamente as mãos do meu rosto e colocava no seu:
— Tenho mais imperfeições que você. – brincava
Volto à vida real. Odeio a realidade. Termino o maldito copo de chá, jogo-o dentro da pia. Fico parada, olhando para todas as paredes que pintamos juntos, com gargalhadas e beijos espontâneos. Derramo uma lágrima. Me encosto na parede e deslizo até sentir o chão gelado. Começo a cantar sozinha, ouvindo o eco da minha voz:
— E eu te preciso como nunca.
Choro, soluço, bato a cabeça na parede várias vezes. Eu tinha que acabar com esse sofrimento, tinha que dar um fim em tudo. Me levanto e sigo até á varanda, até que ouço o celular tocar.
Por um momento, parecia que ele estava me ligando. Achei que atenderia e ouviria sua voz angelical. Corro, atravesso o corredor, as paredes alaranjadas pareciam rir de mim. Abro a porta do quarto, me jogo na cama e finalmente, atendo o celular:
— Oi Manuela.
Reconheci imediatamente a voz, era meu irmão, Noah.
— Oi. – respondi seca
— Só queria saber se você está bem. Faz uns quatro dias que não ouço sua voz.
— Estou bem. Tentando superar. Preciso terminar o que estou fazendo. Adeus Noah.
E desliguei antes de ouvir um adeus. Mais lágrimas caem.
— De onde tirei a ideia que ele me ligaria? Hein? Sua idiota! – gritei para mim mesma, abrindo o guarda roupa e socando o celular lá dentro.
Me jogo na cama chorando. E ao pensar que toda aquela cama teve momentos tão felizes. No meio das cobertas, vi o que me incriminava, vi o pior problema: um exame. Pela milésima vez, abro aquele papel e vejo a mesma resposta. “Teste de gravidez: positivo.”
Como eu iria contar isso para a família dele? Como contaria para minha família? Como eu, uma viúva, cuidaria de uma criança?
— Vamos acabar com isso. – disse para mim mesma.
Saio do quarto. Ando pelo corredor, sentindo as paredes, tocando-as delicadamente. Pra mim, elas pareciam azuis. Pareciam estar chorando de um jeito baixo e fino. Passo pelo banheiro, lugar onde eu sempre brigava com Rafael para deixar a porta fechada.
Naquele dia, ela estava aberta. Me vejo no espelho, e sei muito bem o que reflete: uma mulher de 23 anos, grávida de dois meses, ruiva, aproximadamente 1,55m de altura, não era gorda e nem magra. Lembro-me do sacrifício na adolescência para enfrentar a tendência de engordar. Lembro-me do sacrifício para manter os cabelos ruivos, meio vermelhos e alaranjados, mas nenhum sacrifício foi tão doído como ficar sem meu amado. Ele ficaria tão feliz ao saber que eu estava grávida. Sua paixão era cuidar de crianças. Não era a toa que queria ser pediatra. Bem falado. Queria.
Volto a sentar na cadeira, apoio meus braços na mesa sem saber ao certo o que fazer. Deslizo minha mão na arma, acaricio-a, fecho os olhos, e então, lembro-me de toda a minha vida.
Crescer não foi fácil pra mim. De longe, minha família aparentava ser tão normal, mas de perto era terrível. Minha mãe era um doce, um excelente exemplo. Era meiga, mas quando era necessário conseguia ser rígida e brava. Tinha um irmão mais novo, nossa diferença de idade era apenas dois anos, crescemos e aprendemos juntos.
Fui crescendo e percebendo que meu pai tinha um comportamento estranho, mais ou menos quando tinha uns 10 anos percebi que ele era um alcoólatra. Mesmo assim, eu o adorava. Muitas pessoas dizem que, a filha acaba tendo a personalidade do pai, e se inspira nele. Mesmo com todos os defeitos, eu o amava.
Meu sonho era ter um anel. Um simples anel. Daqueles que apareciam na televisão, sempre passavam despercebidos. Poucas pessoas reparavam no que havia nos dedos das atrizes. Alguns eram mais bonitos que as próprias.
Em um sábado, quando eu tinha aproximadamente uns 12 anos, desci até o porão de casa e vi uma caixa que estava escrito: “Constance”. Meus olhos brilhavam, e eu fui com um olhar curioso, fuçar.
Sabia que não devia fuçar aquela caixa, principalmente, porque ela pertencia a minha mãe. Mas o nome me seduzia muito, pra mim, o nome de minha mãe transbordava doçura.
Com cautela, abri uma das abas. Já vi que havia muitos objetos ali dentro. Puxo o primeiro: Era um belo urso de pelúcia. Parecia ser belo em seu tempo. Minha impressão na época era que muitas lágrimas já haviam molhado aquele urso. Porém, no dia em que o encontrei, ele estava cheirando a mofo, todo sujo e abandonado.
Não conseguia ver mais nada, tive que abrir a segunda aba. Ficava olhando para a porta, sempre desconfiada, de medo que alguém aparecesse e acabasse com minha alegria. Havia muitas coisas na caixa, algumas que eu nem me lembro mais. Muitas roupas, meias, brinquedos, brincos e de repente dou de cara com uma pequena caixinha de veludo. Fiquei encantada. Dei mais uma olhada para a porta e como uma exploradora, abri aquela caixinha, num movimento rápido e ao mesmo tempo devagar, curtindo cada momento. O que tinha lá? Um anel.
Ele era tão lindo, tão perfeito, tão maravilhoso. Nunca tinha visto uma coisa tão graciosa em toda a minha pequena vida de 12 anos. Eu não conseguia descrevê-lo e até hoje não consigo. No centro, havia uma pequena pedra de brilhante e “o círculo”, como eu costumava dizer, era de ouro.
Eu estava tão maravilhada com aquele anel, que nem ouvi passos descendo a escada que ligava o porão á casa. Até que ouço uma voz doce, porém brava, atrás de mim:
— Manuela!
Joguei com força o anel, levei um grande susto, olhei para trás e era minha mãe:
— O que você está fazendo aí? – disse com um tom rígido.
— Eu achei essa caixa e...
— Quem te deu permissão para mexer nas minhas coisas? – perguntou, já sabendo a resposta. Típica pergunta idiota que as mães fazem.
— Ninguém. Eu desci aqui e acabei encontrando. – respondi.
— Não mexa nas minhas coisas... – disse.
— Mas estão socadas aqui e...
— Não quero saber. Não mexa! Olha a zona que você fez! Trate de arrumar isso aí, vou sair com seu irmão. – disse ela, com a voz um pouco mais calma.
E então saiu, mesmo estando de costas, a ouvi subindo as escadas com o chinelinho de pano que sempre usava, e eu sabia exatamente o som que eles faziam ao entrar em contato com o chão.
Olhei no relógio, eram 15 horas. Fiquei sentada no chão, apenas pensando, por uma meia hora. Por que não podia mexer na caixa? Havia segredos ali? E o mais importante: Por que ela não tomou a caixa de mim e a escondeu em qualquer lugar? Será que era algo superficial? Será que a irritação fora superficial, apenas para eu procurar mais? Será que meu pai era tão mal que ela queria transmitir uma mensagem usando a psicologia inversa? Hoje já sei a resposta de todas as perguntas que bolei em minha cabeça naquele dia: Não.
A irritação era real, eu realmente não devia mexer na caixa por ser muito nova, e talvez estragar alguma coisa, ou até mesmo ler alguns dos papéis que lá havia e sair contando para todo mundo. Não zombe de mim, meu caro leitor, você seria um hipócrita se falasse que perguntas idiotas nunca surgiram em sua vida quando estava saindo da infância e entrando na adolescência.
Sentada, vi que o anel tinha caído embaixo de um armário escuro. Fui engatinhando até lá e o peguei. Comecei a abraçá-lo. Sim, abracei um anel, beijei um anel, pedi que fosse meu para sempre. Era como se eu estivesse apaixonada por aquele objeto que muitos nem percebiam.
O coloquei delicadamente em meu dedo anelar. Ficou perfeito, eu ficava olhando para ele o tempo todo, admirando aquela beleza. Olho mais uma vez no relógio, eram 16 horas.
Ouço um barulho de porta, vindo da casa. Pensando que era minha mãe, comecei a juntar toda a bagunça que espalhei pelo porão, coloquei tudo dentro da caixa, e ao por, percebi que havia muitas folhas lá dentro, mas como eu tinha que ser rápida, nem consegui vê-las direito.
Abre-se a porta do porão, eu continuava de costas para a porta. Percebi que em vez do som de um chinelinho de pano, era um som bruto, raivoso e até mesmo sem consciência. Viro-me assustada para ver quem tinha chego, e dei de cara com meu pai.
— O que está fazendo aqui? – perguntei.
Eu realmente estava muito confusa, ele tinha dito que sairia com alguns amigos. Mas a minha confusão na época era por ser tão inocente. Depois que cresci, percebi que quando um alcoólatra diz que vai sair com alguns amigos, é a mesma coisa que dizer: “Ei, vou ali encher a cara e já volto ok?”
— O que é isso na sua mão? – ele me respondeu com outra pergunta
Escondi minha mão antes dele terminar a frase, nunca tinha ficado com tanto medo do meu pai. Ele realmente estava me assustando
— N-Nada. – respondi gaguejando
— É um anel? – perguntou
— Não.
— É sim! É um anel! Aonde você arranjou isso? – perguntou ainda calmo
Não respondi.
— Aonde você arranjou isso?! – perguntou mais uma vez, mas gritando
— Na caixa. – respondi tremendo
— Que caixa? – gritou
Não consegui responder. O medo era tanto. Senti meu sangue correr mais rápido, senti frio, tremi, só conseguia desejar que minha mãe voltasse logo
— Me responda sua vaca! Que maldita caixa é essa?! – repetiu no mesmo tom de grito
— Da mamãe! – respondi gritando, sem perceber.
Ele me olhou de uma forma terrível. Pra mim, parecia possuído. Olhou para a caixa, fez uma cara zangada e chutou a caixa com toda a força que tinha, olhou pra mim mais uma vez:
— Sua desgraçada! – berrou me dando um tapa na cara. – Como você pode trazer de volta essa maldita caixa? Eu cansei dessa porcaria!
Comecei a chorar. Minha vontade era de soluçar, mas fiquei com tanto medo de fazer barulho que apenas coloquei a mão no meu rosto e fiquei chorando em silêncio. Ele colocou a mão na cintura, deu umas duas voltas no porão, olhou para meu dedo, e agressivamente arrancou o anel que lá estava e subiu as escadas.
Corri atrás dele feito louca, vi que ele estava indo ao banheiro, eu não sabia o que pensar, não sabia se gritava, se chorava, se ligava para a Delegacia. Ao entrar no banheiro, vi que ele ergueu a tampa da privada e jogou o anel lá dentro, a única coisa que consegui fazer foi gritar. Ele deu descarga.
Me joguei no chão, fiquei encostada na parede chorando, e dessa vez, comecei a soluçar.
Ouvi o barulho da porta, ergui minha cabeça e olhei para o lado, minha mãe e meu irmão entraram na casa, e deram de cara comigo encostada na parede com o rosto vermelho, misturando choro com tapa. Meu pai saiu do banheiro, andou rapidamente pelo corredor, tomou a chave do carro de minha mãe e saiu.
Meu irmão ficou desesperado, atravessou o corredor, sentou-se do meu lado e me abraçou. Foi um abraço tão forte e tão apertado, que parece que até hoje o sinto. Minha mãe saiu pra fora e só dava pra ouvir seus gritos:
— Volte! Você está louco? Você vai se matar! Volte!
Naquele dia, não consegui chorar mais. Estava em estado de choque, não sabia nem no que pensar. Pedi para que meu irmão dormisse comigo, e me abraçasse, porque eu estava com tanto medo. Não estava com medo do meu pai, e sim de perdê-lo.
Hoje vejo que eu já tinha perdido. Toda vez que ele bebia, eu ia o perdendo cada vez mais. Aquele dia foi apenas o fim, a perdição total. Não quero passar nem uma lição de moral a ninguém nesse livro, mas acho que não custa pedir que você, leitor querido, tome muito cuidado com os caminhos que a vida apresenta. Tome cuidado e veja se seus caminhos não vá prejudicar uma outra pessoa. Prejudicar no sentido de traumatizar ou até mesmo matar. Por sorte, com meu pai não foi assim, porque na morte, ele morreu sozinho, e não levou outra pessoa junto.
Minha mãe passou a madrugada inteira de pé. Não parava um segundo, chorava, brigava, ficava desesperada. Eu e meu irmão dormimos na mesma cama, num silencio que chegava a ser imbecil. Na verdade, não conseguimos dormir por mais de 1 hora. Enquanto um dormia, o outro vigiava. Foi realmente uma bela união de irmãos. Ficamos muito mais unidos depois daquele triste episódio. A partir dali, prometemos que um protegeria o outro. Eu, como irmã mais velha sempre achei que eu iria protegê-lo, e que eu nunca iria precisar ser protegida pelo meu irmão. Doce engano, doce engano.
O dia seguinte foi muito obvio. Acordamos com o som do telefone, logo depois, nossa mãe entrou no nosso quarto e nos cutucou:
— Levantem. Seu pai está morto.
Saiu com o carro a 150 km/h e bateu num poste. Chamaram ajuda, mas ele morreu no caminho do hospital.
Aquilo não foi surpreendente pra mim. Eu já imaginava que aquilo ia acontecer, tinha 12 anos e não era tão inocente assim. Tinha minha inocência, mas não era como uma pessoa de 10 anos, como meu irmão. Pra ele sim foi um choque. Abraçou minha mãe e começou a chorar escandalosamente. Eu fiquei sentada na cama olhando o escândalo que os dois faziam juntos. Fiquei em silencio, pasma, por mais que ele tivesse dado descarga no anel perfeito e que eu tanto sonhara, eu ainda o amava. Ele era meu pai e eu querendo ou não, pela natureza, eu seria parecida com ele. Só teria que tomar cuidado com os caminhos que eu fosse escolher na vida.
Meu dia inteiro foi numa funerária. Pessoas iam e vinham, falavam a mesma coisa, os abraços tinham o mesmo “gosto”. Lá pelas 14 horas, comecei a sentir uma forte dor de cabeça. Acho que tantos abraços e tantas palavras repetidas estavam me fazendo doer a cabeça. Pedi para minha mãe, para dar uma volta, porque minha cabeça estava estourando. Ela me deixou ir.
Comecei a andar pela cidade, não sabia onde estava indo, apenas deixava meus pés me levarem. E eles me levaram a um banquinho numa pequena praça no centro da cidade. Me encolhi ali e comecei a chorar. Novamente, um choro baixinho e tranqüilo. Passaram-se uns 10 minutos, até que alguém cutucou meu ombro, olhei para o lado e vi um menino com o cabelo cor avelã com uma xícara de chá nas mãos.
— Oi. – disse o menino
— Oi. – respondi educadamente
— Aceita um copo de chá? – perguntou sorrindo
— Eu não estou muito com vontade. – falei, limpando uma lágrima
— É chá de camomila. Tem um grande poder relaxante. – disse ele
— É mesmo? E como você sabe disso? Por que ele relaxa? – perguntei
— Não sei. Só sei que ajuda a relaxar. – respondeu rindo
Comecei a rir espontaneamente. Meu pai tinha morrido e um menino desconhecido com o cabelo cor avelã me fez rir. O que eu tinha na cabeça?
— Tá bom. Não farei desfeita. – falei, pegando o copo de chá que ele tinha em suas mãos.
Tomei um gole. Percebi que o garoto ficou me olhando de um jeito diferente:
— O que foi? – perguntei sorrindo.
— Nada não. – respondeu com outro sorriso. – Desculpe a pergunta, mas, por que você está chorando?
— Meu pai morreu. – falei com um olhar triste.
— Oh meu Deus. Eu sinto muito! Se eu soubesse, nem viria aqui te incomodar. – ele disse sinceramente. Seus olhos já me mostraram toda a sinceridade, e todo o consolo que iriam me oferecer.
— Não, imagina! Na verdade, a melhor parte do dia foi ter um estranho me oferecendo um copo de chá. – falei sorrindo.
Novamente ele me respondeu com um sorriso, este, não tão sincero, mas ainda me consolava.
— Não quero ser um estranho. Qual o seu nome? – perguntou
— Manuela. – respondi. – E o seu?
— Rafael.
Quando ele disse seu nome, meu sangue começou a circular mais rápido, me deu uma falta de ar. Eu não tinha a menor ideia do motivo. A única coisa que eu sabia era que o nome Rafael me causaria muito impacto após aquilo. E como causaria.
— Belo nome. – falei
— Obrigada.
Ficamos em silencio por alguns minutos. Notei que eu nunca tinha visto aquele menino antes. E para continuar o assunto, resolvi perguntar:
— Você é daqui?
— Ah, não. Na verdade, nem desse estado sou.
— Sério? De onde você é? – perguntei. Doce curiosidade que sempre tive
Ele riu um pouco e logo respondeu:
— Sou do Rio de Janeiro.
— E o que está fazendo aqui no Paraná? – perguntei. Até hoje acho que minha curiosidade irrita
— Visitando minha avó. Ela adora o frio do Paraná mais do que odeia ficar sozinha. Minha família inteira mora no Rio de Janeiro.
— Ah sim.
— Ela mora aqui na frente. – comentou, apontando para uma casa de dois andares. – Aí vi uma bela moça chorando e resolvi trazer um copo de chá a ela.
Sorri. Ele também. Ambos ao mesmo tempo. Foi uma sintonia incrível. Ficamos nos olhando até que ouvimos um grito:
— Rafaaaeeeeel! Vem aqui!
— É minha avó. – disse ele. – Tenho que ir!
— Tudo bem. Adeus! – falei, novamente com um olhar triste
— Adeus moça bonita. – disse
Assim que ele virou-se para ir embora, tropeçou numa pedra e caiu. Sai correndo acudir:
— Meu Deus! Você está bem? – perguntei desesperada
— To ótimo! Só machuquei meu joelho. – respondeu rindo
Vi que seu joelho ficou todo esfolado, quase sangrando. Estendi minha mão para ajudá-lo a levantar. Na hora que ele tocou minha mão, meu coração foi a mil. Chegava a ser impressionante, nunca tinha me sentido daquele jeito, foi uma mistura de tudo o que eu já havia sentido: comecei a tremer, fiquei vermelha, meu coração acelerou, meu sangue ferveu e me deu uma falta de ar. Talvez ele tivesse percebido aquilo, ou não.
— Q-Quer a-ajuda para ir até sua avó? – perguntei, estava tão nervosa que comecei a gaguejar.
— Não, não. Obrigado! – respondeu sorrindo. Acho que ele tinha percebido meu nervosismo. – Adeus!
E lá se foi, um menino incrível, e que provavelmente, raramente iria vê-lo novamente.