segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Capítulo II - Cinco meses depois


II – Cinco meses depois

            Acordo e automaticamente olho pro relógio, são exatamente 8h da manhã. Sinto um peso muito grande nas minhas costas, algo que machuca de certa forma:
            - Arthur sai de cima de mim.
            Empurrei-o, escapando do seu corpo que estava prendendo o meu de uma forma não muito romântica. Nossos horários de trabalho batiam, então quando eu acordava, ele também devia acordar:
            - Arthur, acorda. – comecei a bater de leve em suas costas.
            Ouvi apenas um gemido e ele se virou resmungando mais. Tentada, comecei a pular em cima dele, o que aparentemente não deixa uma pessoa muito feliz de manhã:
            - Puta que pariu Alice, deixa eu dormir – resmungou, cobrindo a cabeça.
            - Não sou eu que vou perder o emprego mesmo. – deixei de lado.
            Levantei e ainda sonolenta, coloquei água para ferver e assim, fazer o café. Cafeteiras eram para os fracos. Fiquei encostada na parede apenas olhando aquele céu azul, o sol já estava brilhando e não havia rastros de nuvens. Seria um ótimo dia para fotografar:
            - Oi. – disse Arthur coçando os olhos e sentando-se a mesa esperando o café estar pronto.
            - Oi. – respondi ainda olhando pela janela do 5º andar – Hoje está um bom dia pra fotografar. Quer ir comigo?
            - Não. – respondeu numa voz engraçada e rindo.
            - Então não vá. Eu vou sozinha mesmo.
            - Tá bom, eu vou com você. Mas você vai me dar a Olho de peixe pra tirar as fotos.
            Passei o café com ele sentado na mesa mexendo em seu celular, jogando algo relacionado a carros ou algo assim. Assim que coloquei café na minha caneca psicodélica dos Beatles, ele pediu sem tirar os olhos do celular:
            - Serve o café pra mim.
            - O caramba, levante e sirva você. Não sou tua empregada.
            Não me entendam mal leitores. Nas primeiras vezes num namoro, fazemos tudo pra agradar e fazemos tudo que nossos amores pedem. Mas depois de algum tempo com a mesma pessoa, começamos a achar que ela tem força o suficiente pra fazer sozinha:
            - Ah mas que saco, tudo eu nessa casa. Você nem pra por café pra mim. - reclamou
            Ignorei e fui me arrumar, definitivamente não éramos o casal mais animado durante a manhã. Algo mudou nesses 5 meses, Arthur comprou um fusca vermelho, a lataria era impecável e depois de arrumar o motor, estava em ótimas condições para um carro velho. Não precisei mais andar de ônibus, pois ele me deixava todo dia no trabalho com um beijo na testa e um “bom trabalho, te amo”
            Assim como citei, a monotonia continuou até que algo quebrou aquela rotina:
            - Eu, você, Vinicius e Arthur no barzinho perto da minha casa, o que você acha? – gritou Mariana ao me ver entrando no prédio da editora.
            - Claro! Vamos! Só tenho que ver com Arthur, sabe como é, ele não gosta muito de sair.
            - Arrasta ele e vamos. Tudo por minha conta, o que você acha? – ela realmente parecia muito animada.
            Antes que eu me esqueça, nesses cinco meses, Mariana encontrou um namorado muito diferente e talvez até mais divertido que ela. Não no sentindo de animação, claro. Mas ele era fotógrafo profissional, vivia disso. Entendia de todas as lentes, poses, enfim, tudo que era necessário. Um excelente profissional e um ótimo amigo.
            O dia passou rápido, e detalhes novamente não devem ser citados, são insignificantes e cansariam a leitura.  Depois do trabalho, eu e Arthur fomos tirar fotos no parque que eu considerava o mais bonito da cidade. Fotos de todas as formas foram tiradas por nós dois naquele fim de tarde. Por mais que não soubesse, ele levava mais jeito para fotos do que imaginava:
            - Então, Mariana nos convidou pra sair hoje. – comentei entre os cliques.
            - Sair? Não, estou cansado hoje.
            - Por favor, vai ser divertido!
            - Quem vai?
            - Eu, você, o Vinicius e a Mariana.
            - Aquele Vinicius só pode ser gay. – comentou entre risos, talvez maldosos, ou simplesmente por deboche.
            - Não é não!  Ele namora com ela, por que seria gay? – desviamos completamente do assunto central
            - O cara leva o maior jeito, só to dizendo! – mais risadas surgiram, comecei a rir secretamente.
            - Mas você quer ir ou não?
            - Você sabe que não gosto muito de sair. – desanimou
            - Mas a gente quase não sai, tem ficado tanto em casa...
            Pensou por alguns segundos, beijou minha testa até finalmente dizer:
            - Então vamos.
            A vista daquela praça era maravilhosa, o dia ia acabando tão sutil que quase ninguém percebia suas belas cores mudando a cada minuto no céu. Eu sempre digo que o nascer e o por do sol são os momentos onde o céu está mais bonito, onde as cores dançam enquanto ninguém dá muita bola. Eu olhava tudo aquilo com os olhos brilhando, assim como sempre fiz. Desde que nos conhecemos, tento passar para Arthur tudo que sinto quando vejo o céu daquele jeito:
            - Veja o céu como está bonito. – falei na mesma sensação que foi descrita antes.
            - Sim, ele está. – ergueu a cabeça, prestando atenção
            - Olhe como ele tá meio rosa e azul, isso é tão incrível.
            Continuou com a cabeça erguida, acreditei que ele estava admirando como eu estava, não sei ao certo qual era seu sentimento em relação ao céu, mas pra mim só importava chamar a atenção dele.
            Abraçou-me e disse:
            - Eu te amo.
            Apesar de discordarmos quase em tudo, era frequente ele dizer que me amava, mas eu gostava muito mais quando ele sorria ao dizer isso, como fez. Era raro, incomum, por isso tornava-se algo tão especial.
            - Eu também te amo.
           
                        Fomos ao barzinho que eu e Mariana frequentemente íamos por tédio.  Morar numa cidade grande pode ser solitário e tedioso na maior parte do tempo, então nos encontrávamos lá desde que nos conhecemos. Sentamos perto da janela e começamos a beber  drinks misturados com todo tipo de bebida alcoólica que se poderia imaginar. Nunca fui forte pra bebida, então comecei a atordoar cedo.
            Conversas vinham, iam, sentíamos a música indie do lugar, pensava na iluminação e em coisas sem sentido. Conversava com Vinicius sobre câmeras, com Arthur sobre conspirações dos EUA e com Mariana sobre bebidas, a medida que elas vinham e faziam efeito. Em certo momento,  Mariana disse que esqueceu algo no carro, e pediu para que eu a acompanhasse até lá.
            Inocentemente, fiz o que ela pediu. Quando chegamos ao carro, Mariana pediu para que eu entrasse, não fazia ideia do que ela queria, até que do bolso ela tirou um cigarro estranho:
            - O que é isso? – perguntei como se fosse uma criança de 10 anos.
            - O que você acha que é?
            Não respondi, com uma expressão de dúvida, comecei a desconfiar:
            - Consegui com um amigo meu, nunca usei e acho que você também não. O que acha?
            - Não sei, nunca usei também...
            - O que acha? Temos que experimentar de tudo na vida.
            Como eu tinha bebido demais, achei que não faria a menor diferença, então dei uma tragada. Em pouco tempo nós duas tínhamos acabado com tudo e estávamos rindo igual duas idiotas.
            Não sei como ninguém viu ou reclamou daquilo. Duas pessoas completamente doidas dentro de um carro. Quando voltamos ao bar, tentamos ser normais, o que era impossível.
            Tocava The Killers, e eu sentia cada nota em minha pele, pode não ser tão poético, mas fazia com que eu me emocionasse e desse mais risada. Mariana, sempre mais exagerada, ria alto e gritava ao falar:
            - Você esta bem? – sussurrou Arthur
            - To ótima. Sim. Sim. Sim – comecei a rir novamente
            Sentia meu sangue percorrer minhas veias, tudo parecia rápido e devagar ao mesmo tempo. Meu estômago embolava, minha cabeça girava e doía ao mesmo tempo:
            - Vamos embora daqui, por favor. – pedi a Arthur
            Depois de uns minutos que pareciam eternos, entrei no carro com ele e fomos embora. No caminho, ele parecia irritado:
            - Não foi só a bebida que te deixou assim...
            - Claro que foi Arthur, deixa de ser paranoico – eu respondia com os olhos vidrados nas luzes dos postes que nos deixavam para trás.
            - Eu te conheço Alice, e você piorou depois que a Mariana foi buscar alguma coisa no carro.
            - Só uma coincidência, apenas isso meu caro namorado e companheiro de apartamento.
            Arthur olhou pro lado sem saber se eu estava mal ou se estava tirando sarro da cara dele:
            - O que você usou? – perguntou, mais irritado.
            - Nada.
            - Como nada? Acha que eu sou retardado?
            Comecei a rir do nada... de novo...
            Quando estávamos perto de casa, meu estomago embolou mais e mais:
            - Acho que vou vomitar...
            Arthur olhou com uma cara de assustado, por sorte não vomitei no carro. Tive ânsia durante todo o trajeto até nosso apartamento, quando cheguei ao banheiro, coloquei tudo pra fora, enquanto Arthur segurava meu cabelo, ajoelhado comigo no chão:
            - Agora não diga que sou um mau namorado
            Deitamos logo em seguida que tomei um banho por causa do cheiro, ele estava frio, mudo, e eu também não queria dizer nada. Sentia-me culpada, com um peso nas costas. Será que depois de tantos anos, continuava sendo uma menina mimada implorando atenção?
            - Você não devia ter feito isso, eu vou atrás da Mariana e vou xingar ela. – quebrou nosso filme mudo
            - Mas eu fiz, ok? Como se você nunca tivesse feito antes.
            - Não me importa, eu to muito bravo com você, pra cacete! – falou cada vez mais irritado e agressivo – você é só uma menina idiotinha, como sempre foi! Nada mudou, continua sendo uma retardada fazendo coisas que não deve.
            Chorei como sempre, mas dessa vez, ele não amoleceu, não quis saber.
            - Você não é meu pai! – alterei minha voz – Tenho mais de 18 anos, sei o que faço da minha vida.
            - Sabe? Usando drogas depois de encher a cara? Você sabe o que faz? Isso é ridículo!
            Sabia que a discussão ia longe, virei pro outro lado e fingi que estava tentando dormir
            - Bem que me falaram, eu não devia ter ido atrás de você, só me traz problemas, desde o dia que te conheci.
            Fiquei com tristeza e raiva ao mesmo tempo, fiz de tudo pra ignorar aquilo, até que ele apagou a luz do abajur. Chorei em silêncio por mais um tempo. Será que eu só fazia merda mesmo?
            Uma hora não aguentei mais e tive que dormir, esperando que o dia seguinte fosse melhor.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Capítulo I - Memórias fotográficas



I – A volta

            Mais um dia pacato, o céu estava nublado mas eu não tinha certeza se choveria ou não. Acredito que minha rotina não deve ser citada, já que seria apenas repetir as mesmas coisas. Como os leitores podem notar, eu tenho um tom depressivo. Tudo que escrevo ou falo parece um pouco melancólico e cinza. Isso acontece em certas épocas, e é bem notável. Nunca fui o tipo de pessoa que demonstra estar feliz o tempo todo. Quando me deprimo, deixo isso bem claro... até minha câmera aparecer.
            Até pensei em tirar foto daquele céu nublado com minha câmera Diana F+, mas pensei que talvez pudesse ficar um pouco escura, e também por eu não conseguir descrever aquele céu, apenas dizer: cinza.
            Fiz meu trajeto para o trabalho de ônibus, não gostava muito de carros, era ambientalista até demais. No segundo capitulo desse livro, finalmente decido escrever quem eu realmente sou: meu nome é Alice, sou formada em Letras, trabalho na maior parte do tempo numa editora, analisando textos e corrigindo palavras.As vezes fazia uma tradução ou outra pra ganhar um dinheiro extra. Bebo e tomo remédios pra esquecer dos problemas, parece algo muito comum pra se escrever num livro. Meu sonho? Escrever um livro e acabar parando na Academia Brasileira de Letras. O que já fez muito de meus professores rirem, coisa muito improvável.
            Perguntava-me todos os dias se eu podia sonhar tanto. Deixando o baixo astral de lado, entrei no jornal e logo subi para meu lugarzinho confortável de sempre, parei na cozinha, peguei mais um copo de café e fui fazer o trabalho do dia-a-dia. Que coisa inesperada.
            Meus pensamentos eram irônicos, mas os fatos realmente eram inesperados. Quando fui cumprimentar Mariana, vi que ela estava com uma expressão estranha, um tanto debochada. Olhei para meu lugar, vi que tinha alguém sentado ali, sem pensar ou analisar, fui direto em direção da pessoa. Que ousadia, quem seria pra sentar no meu lugar? (Consigo ser chata por mexerem nas minhas coisas ou sentarem no meu lugar na maioria das vezes)
            - Com licença – disse com uma voz alta e firme. Li numa revista que isso era impor sua vontade e que era provável que a pessoa ficasse com medo de você, ou algo do gênero. Cheirava a bobagem.
            Quando aquela pessoa se virou. Não. Não era. Não podia ser. Não, não, não, não. NÃO! Ainda bem que eu não falei em voz alta todos esses “nãos”, soaria estranho e ridículo.
            Era ele. Ele. ELE. Pensei em milhares de palavrões, era impossível aquilo. Como ele me achou? Como isso estava acontecendo? Eu estava sonhando? Por que eu parecia uma adolescente de filmes americanos?
            - Oi. – disse ele, levantando-se e mexendo no cabelo. Era evidente que ele também estava nervoso.
            - Oi. – respondi, comecei a sentir um frio tomando conta do meu corpo inteiro. Chamem uma ambulância, estou tendo um ataque cardíaco.
            Mariana parecia se divertir com tudo aquilo, começou a rir alto do próprio destino.
            - Então, espero que você não se importe por eu ter vindo sem avisar.Não sabia seu telefone – continuou nervoso.
            - Não tem problema, hoje o dia não está muito cheio.
            Ficamos num silêncio mortal por alguns segundos, olhando pra baixo, sem saber o que dizer. O que eu poderia falar? Fazia 1 ano que eu não tinha contato nenhum com aquele homem. Ele não parecia ter mudado muito fisicamente, continuava do mesmo jeito com a aparência um tanto bruta, cabelos escuros e olhos não tão dóceis.
            - Quer se sentar? – perguntei, já não sabendo mais o que dizer, todas as ideias passavam na minha cabeça em tão pouco tempo.
            - Sim, claro.
            Puxei uma cadeira na minha frente. Ele se sentou e os segundos de silêncio pareciam lâminas de dúvida me cortando. O que eu faria agora? Já tinha visto essa cena em vários filmes românticos que assisti quando me sentia muito sozinha e sem motivo pra viver. Acho que Mariana tinha razão, eu era um merda de uma dramática.
            - Eu queria passar aqui rapidinho, não quero atrapalhar seu trabalho. – disse ele numa educação que não era muito normal quando convivíamos.
            - Não se preocupe, não está me atrapalhando. – respondi educadamente, como ele.
            - Então, você está feliz? – perguntou. Não sei qual era a intenção da pergunta. Não sei se era uma pergunta educada ou curiosidade mesmo. Várias dúvidas giravam em torno da minha cabeça, perguntei-me se não era velha demais pra sentir tantas dúvidas.
            Após algum tempo pensando na pergunta, respondi falsamente:
            - Sim, eu sou muito feliz.
            - Fico feliz – sua resposta não parecia ser sincera, assim como a minha. – Com o que você trabalha aqui? Finalmente encontrou o que estava procurando?
            Ele me lançou outra bomba no meu colo. Fazia perguntas tão estranhas, que eu analisava todos os dias mas nunca obtia uma resposta satisfatória. Na verdade, eu sentia que nunca iria encontrar o que estava procurando. A vida sempre me levaria a buscar outras coisas, talvez fosse assim com todo mundo.
            - Eu edito alguns textos, analiso pra ver se estão escritos corretamente, traduzo algumas coisas, nada muito especial. – respondi a primeira pergunta, evitei responder a segunda.
            De primeira nem perguntei o que ele andava fazendo, preferia deixar minha mente imaginar ou simplesmente não saber muito sobre isso. Tinha medo da pessoa que estava na minha frente, e isso era a verdade.
            - Olha, eu sei que é muito estranho, mas será que na hora do almoço podemos ir na lanchonete da esquina comer alguma coisa? – começou a rir, seus gestos indicavam que ele estava nervoso. Conhecia todos seus gestos e expressões: de raiva, tristeza, alegria, desespero e nervo.
            - Sim, claro. – respondi sem pensar, muito menos analisar a proposta, mesmo que eu faça isso na maior parte do tempo.
            - Ótimo, venho te buscar.
            Assim que ele saiu, fiquei paralisada na cadeira. Todos os sentimentos começaram a girar em torno de mim, eu devia ter aceitado? Então reconheci que devia arriscar mais uma vez. De vez em quando eu tinha ataques de fazer sem pensar, de maneira livre, assim como eu sentia que era quando não estava me entupindo de remédios pra dormir.
            Mariana pulou da cadeira dela e veio até minha mesa. Ficou olhando e rindo muito:
            - O destino está a favor ou contra você?
            - Não faço ideia. – sorri.
            Eu estava desesperada, minha vontade era de correr e gritar, mas eu estava muito feliz por dentro.
            Na hora do almoço, dei um passo pra algo que eu não fazia ideia de como seria. E eu me sentia bem.

Introdução - Memórias fotográficas




            Vejo minhas mãos que já foram menos grosseiras e marcadas. Sinto-me incompleta, vazia, velha. Sim, tenho 23 anos e sinto-me como velha. O sol ilumina lentamente meu quarto, seus raios atravessam pelas persianas com uma delicadeza diferente do comum.
            Sozinha. Estou sozinha. Nunca realmente consegui imaginar como eu viveria num apartamento sozinha, tive que me adaptar aos poucos. A quem quero enganar? A culpa é toda minha! Eu o deixei, arrisquei toda minha felicidade por impulso. Tentei ter uma vida espontânea, diferente, e deixei pra trás toda minha base e chão.
            Minha vida não é necessariamente triste, vivo do jeito que sempre quis viver, escrevendo, tirando fotos e me adaptando a mudança, mesmo assim, depois que fui embora, escrever tornou-se pacato e chorar desnecessário:
            -  Bom dia! – deu um grito totalmente louco, um tanto animado para uma manhã de segunda-feira. Mariana era minha amiga, levava-me a festas, bares, enfim, à vida noturna. Tocava bateria numa banda, completamente doida. As vezes eu me juntava a ela e começava a cantar, mas isso, só depois de várias doses de whiskey.
            - Bom dia – respondi secamente, já que permanecia presa nos meus pensamentos matinais.  Com eles vou tão longe, que perco a noção de como o tempo passa, ora no meu quarto, ora no ônibus ou trabalho. Bebi um gole de café que estava na minha mesa.
            - Como sempre, garanto que não fez nada ontem.
            Como ela pode saber isso? Seria minha espontaneidade tão previsível?
            - Na verdade fiz muita coisa. – como se eu realmente tivesse feito, escrevi sobre uma joaninha no jardim e dormi até demais. O café já não faz o efeito desejado.
            Ela ficou em silêncio, sabia que eu estava mentindo. Ela percebia que minha vida ia devagar como uma lesma atravessando um campo de futebol. Preferi não comentar nada, afinal, escrever sobre joaninhas parece um tanto infantil. Mariana começou a descrever a noite que passou, com quem estava e pra mim pouco importava. Eu estava tendo crises existenciais.
            Normalmente na vida de todo mundo, aqueles flashbacks aparecem do nada, trazendo sentimentos e memórias, e naquele momento, a pior apareceu:
            - Você me ama? – eu perguntava escondida entre minhas mãos, rindo.
            - Sim eu te amo.
            - Você vai me amar pra sempre?
            - Claro que vou. E nunca vou te abandonar. – quando ele dizia isso, parecia ser sincero, e eu acredito que era.
            Outro gole de café. Substituo lágrimas por café, remédios pra dormir e bebidas. Ignoro completamente o que está acontecendo pra me focar no meu trabalho que não queria fazer.
            - Você tem que esquecer seu passado. – Mariana falou alto, tentando chamar minha atenção.
            - É o que sempre me dizem. – suspirei.
            - Você pode parar de ser tão melancólica só um pouco? Isso é chato e enjoativo.
            Não entendi se foi sério ou não. Talvez ela tivesse verdade. Só um pouco.
            A realidade é dura demais comigo. Acho que nunca consegui lidar direito com as decepções que a vida traz, sempre me escondi atrás de uma parede imaginária que construí ao longo dos anos. Poucos anos.
            No fim do dia resolvi fazer a coisa que ainda me deixava feliz, fotografar. Podia estar em depressão ou extremamente eufórica, algo não podia faltar: minha câmera.
            Fotografava o fim da tarde, em anos, pude comprar uma câmera boa o suficiente pra dar mais detalhes ao por do sol. Fotografar não era algo relacionado ao meu trabalho, era um hobby. Talvez se eu trabalhasse com isso, não seria tão divertido. Eu sempre parava crianças, idosos ou adultos para tirar uma foto, os adultos não tinham tempo, precisavam voltar pra suas casas e preparar a comida dos filhos, limpar a casa ou passar mais um tempo fechados longe de seus escritórios. Um tanto irônico.
            Assim como no livro: O pequeno príncipe, eu tinha medo de me tornar adulta demais, chegar um dia que eu vivesse uma vida tão apressada que me esquecesse das coisas que mais gosto de fazer, não acredito que seja uma escolha. Eu não entendia quase nada daquilo.
            Cachorros passavam, pássaros voavam lentamente pelo céu, em conjunto, formando um V grandioso no céu, indo dormir, cuidar de suas vidas, mas não tinham tanta pressa quanto os humanos.
            Voltei pra minha casa, onde tudo ocorreu como sempre: Jantar e dormir.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

À imaginação


Ouça bem
Porque hoje não me enviará flores
Ou qualquer imaginação
Não existirá

Negava a qualquer um
Em qualquer dimensão
E tentava esconder

Mais um beijo e poderíamos sair
Mas é difícil sentir sua falta
Quando conhecidos te dominam
E sufoquem a verdade
Ou não
É apenas imaginação.

Tentando ser bom,
Perto de quem é uma merda
Várias doses de álcool
É esse seu problema?
Alguma chance de te levar pra casa?

Vivendo num mundo isolado
Mais um menino solitário
Dizendo que tantas meninas o procuram
É apenas sua imaginação

Quero ouvir o que tem a dizer
Não há mais escolhas
Eu nunca te persegui
É sua culpa se deixar influenciar

Mais um beijo
E sairíamos
Mas é difícil entender
Quando você ouve idiotas
Pobre menino solitário

Várias doses
Bem-vindo à realidade
Tentando falar o que não deve
Alguma chance de te levar pra casa?

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Um copo de chá - download

Pra quem ainda lembra, ou pra quem não conhece. Em 2010 eu escrevi um "livro" e publiquei no  Clube dos autores e sempre prometi postar aqui, mas nunca postei.
Enfim, revirando pastas no computador encontrei o tal livro e agora disponibilizo para baixar (aeee)
Ignorem os erros (talvez grotescos) de português
Sinopse:

O quanto vale a vida longe de quem nos faz viver? É essa a pergunta que Manuela faz. A moça de 24 anos, grávida, pensa seriamente em suicidar-se porque seu marido morreu em um acidente de carro. Mas antes disso, ela conta toda a sua vida e começa a perceber que a vida talvez ainda valha a pena...
Transtornos alimentares, drogas e bebidas marcaram um período de sua vida. Mas muito amor, família e carinho também marcaram. Esse livro não é apenas sobre o romance de Manuela e Rafael, mas também uma história de amor entre a família e superação das dificuldades da vida.
E ela nunca irá esquecer do garoto do copo de chá...




E muito obrigada por quem leu ou pretender ler Um copo de chá

Aqui está, divirta-se (ou não):
PDF

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A Drummond


Escrever é como dançar suavemente
Cada letra, um movimento doce
Cada palavra, um gosto amargo
Drummond, você já dizia que se sentia isolado.
Um sentimento gauche, meio de lado.
E agora consigo lhe entender.
A forma como enxergava a vida era tão delicada
Assim como escrever.
Se eu tivesse entendido antes o que queria dizer,
Um poeta sofre de amargura, doçura, tristeza e prazer
Todos os sentimentos são mais intensos a quem se abre para eles
Entendo quando disse que nada parecia dar certo,
Como se um anjo meio de lado dissesse que sua vida
Não seria exatamente como a dos outros.
A imaginação e criatividade já não são valorizadas,
Nem mesmo por gente grande.
Talvez nunca tenha sido.
Não posso ter seu talento e provavelmente serei desconhecida do mundo
Mas isso não nos impede de sonhar,
De saborear cada sentimento
E Drummond, assim como você, não posso fazer ninguém tirar de mim
O direito de ser livre e viver.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Entre dúvidas e certezas

Sou eu ou você? Talvez o que estamos vivendo
É difícil quando você faz bobagem?
Os dias parecem mudar
Preciso que alguém me ensine
como parar um show
Preciso de alguém como você
que mostre quando vou perder tudo

E estou sentada sozinha por horas
Arranquem meu coração e me tragam uma taça de vinho
Não há nada que você possa dizer ou fazer
Ainda procuro sombras na minha cabeça

Fui eu ou você? Posso estar enlouquecendo?
É difícil saber que perdeu o controle?
Há algo além do amor, algo que não entendo
A realidade volta para machucar
E eu desmorono de novo

Sou eu ou você? As dúvidas desaparecem
Você é meu único amigo
sou alguém que te deve te explicar
Preciso de alguém que me ensine
que vou perder tudo